O TEMA DA CIDADE MÉDIA Roberto Lobato Corrêa

O TEMA DA CIDADE MÉDIA

Roberto Lobato Corrêa[1]

 A cidade média tem se constituído em temática muito significativa na geografia. Há vários estudos já realizados, assim como reflexões sobre esta temática. Sobre isto apontarei dois pontos para reflexão.

1 – Cidade média – um conceito

Considerando-se uma específica região ou país, uma cidade média não deve ser vista em termos de tamanho demográfico, como aquela cidade com população intermediária entre as maiores e as menores. Isto significa que consideramos cidade média em termos estatísticos, com base na média, moda ou mediana. Assim, simplesmente, em uma dada região uma cidade média poderia ter entre 80.000 e 120.000 habitantes, enquanto em outra, entre 200.000 e 300.000 habitantes.

Se o tamanho demográfico da cidade não deve ser desconsiderado, no entanto é necessário considerar as funções da cidade. Que funções poderiam ser consideradas para se identificar uma cidade média? Função industrial, portuária, serviços educacionais, comércio atacadista e varejista e outras? Todas as funções podem ser consideradas, mas sugerimos que as funções de comércio varejista e serviços em geral constituem a base funcional da cidade média. Estas funções são a essência da cidade média.

É necessário, no entanto, considerar que a cidade média não se constitui exclusivamente como um lugar central. Trata-se de um lugar central bem posicionado na hierarquia urbana regional, uma capital regional. Mais do que isto, no entanto, a cidade média deve desempenhar importante papel no processo de gestão das atividades em sua hinterlândia, sendo capaz de se contrapor, parcialmente que seja, ao papel econômico e político das grandes cidades, metrópoles regionais e nacional e cidades globais. Isto implica na concentração de uma elite econômica e política capaz de atuar significativamente no processo produtivo regional. A cidade média é um centro de gestão de seu território, isto é, de sua hinterlândia.

Tamanho demográfico intermediário, capital regional e centro de gestão do território são os ingredientes essenciais na construção da cidade média e, sendo assim, os critérios essenciais para a sua identificação e o seu estudo.

2 – Como estudar uma cidade média

No estudo de um objeto construído, no caso de uma dada cidade média, é necessário elaborar um questionamento básico, a questão central que norteará a pesquisa. Qual a inserção da cidade X na rede urbana regional?

Muita leitura, tanto teórica como de exemplos constituem elementos fundamentais. E muito trabalho de campo, envolvendo longa permanência na cidade selecionada e em sua hinterlândia. Entrevistas com agentes sociais diversos, comerciantes, industriais, prestadores de serviço, fazendeiros, políticos, sindicalistas, tanto internos quanto externos à cidade são essenciais, assim como a análise da ação do Estado, de dados estatísticos e de estudos já realizados sobre a cidade e a região. Nenhuma informação deve ser descartada.

Admite-se que o diálogo entre a base teórica e as informações obtidas devam sempre fazer parte do processo de pesquisa. A história regional, envolvendo a gênese e a dinâmica das relações regionais, permite a reconstituição da trajetória da cidade em estudo. Finalmente, sugere-se que a imaginação geográfica seja posta em ação.

 

Boa pesquisa para todos!

 

Roberto Lobato Corrêa – PPGG-UFRJ

[1] Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro

 

Próximo artigoWorkshop ReCiMe 2023