Dourados

Mato Grosso do Sul, Brasil | População: 225.495 habitantes (est. 2020)

Dourados é o segundo município de Mato Grosso do Sul em termos populacionais, com 225.495 habitantes (conforme estimativa realizada pelo IBGE, em 2020). “Devido à sua posição geográfica, que a notabiliza como única cidade desse porte demográfico e importância, em um raio de mais de 200 km, Dourados apresenta significativo nível de centralidade interurbana, denotado pela relevância de seu papel no setor comercial e, sobretudo, no de serviços, que assegura sua condição de destaque na rede urbana regional e, por consequência, de cidade média” (CALIXTO, 2017, p.59).

Dourados – MS

Por atrair fluxos, comerciais e de serviços, exerce significativa centralidade regional, constituindo-se como centro de apoio às atividades produtivas do campo, com serviços especializados ligados a venda de insumos e implementos agrícolas, maquinário, formação de mão de obra especializada, geração de conhecimento, dentre outros. Nesse sentido, congrega papéis e funções que asseguram a sua condição de centralidade na rede urbana regional.

Contudo, vale ressaltar que esse papel de intermediação também remete a relações mais distantes, reveladas na articulação da produção destinada à exportação, contando com investimentos de tecnologia considerada avançada e com a presença de empresas com atuação global, como é o caso da Bungue/Perdigão (localizada no Distrito Industrial, que possui cerca de 400 hectares).

Embora Dourados esteja ligado à rede urbana de Campo Grande e, por intermédio dela, à grande metrópole nacional – São Paulo – também desempenha simultaneamente um papel singular e complementar a outros centros urbanos do seu entorno. Assim, de acordo com o IBGE/Região de influência das cidades (2007), apresenta-se como um capital regional B que se subordina a uma capital regional A (Campo Grande) e, por meio desta, à rede urbana de São Paulo (grande metrópole nacional).

Dois aspectos ou duas particularidades do município merecem ser destacadas: a proximidade com a fronteira internacional (Brasil-Paraguai) e a presença da Reserva Indígena de Dourados.

A questão da fronteira

A situação geográfica de fronteira internacional (Brasil-Paraguai) confere especificidades à dinâmica socioespacial da cidade de Dourados.

O setor de comércio é afetado pela pequena distância (cerca de 120 quilômetros) da cidade de Pedro Juan Caballero, no Paraguai, com repercussões nos momentos em que o valor do dólar fica baixo e se torna mais interessante para o consumidor adquirir mercadorias no país vizinho. Isto se torna mais claro quando verificamos que existe inclusive uma proibição municipal ao anúncio de lojas de Pedro Juan Caballero na cidade.

A fronteira também repercute na incidência da criminalidade, tendo em vista o tráfico de drogas e de armas, o contrabando de mercadorias, assim como o roubo de veículos e sua venda no Paraguai. Essa proximidade também revela especificidades quando consideramos, por exemplo, que é comum pessoas vindas do Paraguai procurarem os serviços de saúde em Dourados. Por outro lado, também é comum estudantes de Dourados procurarem cursos superiores no Paraguai, sobretudo o curso de Medicina, cuja faculdade está sediada em Pedro Juan Caballero (fronteira seca com Ponta Porã-MS).

Compreender Dourados a partir de suas especificidades em área de fronteira, também coloca a importância de considerarmos a presença do povo paraguaio na cidade, cujas características e traços se verificam na reprodução de crenças, valores e práticas cotidianas. Principalmente a culinária, constitui-se em característica marcante da presença dos paraguaios em Dourados, já incorporada à alimentação cotidiana, inclusive, em bares e lanchonetes que vendem sopa paraguaia e chipa. A bebida denominada de “tereré”, também é uma marca da presença paraguaia e foi totalmente incorporada aos hábitos, sobretudo de jovens de Dourados que tomam frequentemente, em rodas de conversas.

A Reserva indígena de Dourados

A reserva indígena de Dourados tem aproximadamente 13 mil habitantes e está localizada na porção norte da cidade, distante apenas dois quilômetros do tecido urbano. É “cortada” pela rodovia MS 156, abrigando os grupos indígenas Guarani (Ñandéva e Kaiowa) e Terena.

A situação de “confinamento”, a que está submetida esses grupos indígenas, tem comprometido a realização do seu modo de vida, levando-os a necessidade de recriar estratégias de reprodução da sua existência. Nesse processo de recriação das condições de existência verifica-se a importância da mulher e da criança indígenas que se dirigem à cidade, para venderem os produtos cultivados (basicamente milho e mandioca) e para conseguirem alimentos.

A própria proximidade com a área urbana, aponta para mudanças profundas nas relações e práticas cotidianas, potencializando o confronto e passando a refletir novos valores, necessidades, desejos, nem sempre possíveis de serem realizados, redefinindo o seu modo de ser, viver e de se relacionar com o espaço, ou seja, redefine, de forma mais ampla, o próprio sentido da vida indígena. Nessa perspectiva, faz-se presente uma situação de confronto que se expressa por intermédio do conflito de estar fisicamente próximo da cidade e não vivenciá-la de forma plena.

É comum na Reserva Indígena, a presença de casebres construídos com lona plástica, pedaços de madeira e outros materiais, não diferindo das condições de moradia de parcela significativa dos moradores de área de favela na cidade. Esse cenário, que expressa uma lógica que reduz as relações sociais, dilacera e condena, serviu de justificativa para respaldar a intervenção do poder público na reserva indígena, por intermédio da implantação do conjunto habitacional Estrela Ará Poty.

Confira Dourados na PGI.

 

Livro

SPOSITO, M. E. B.; MAIA, D. S. (Org.). Agentes econômicos e reestruturação urbana e regional: Dourados e Chapecó. 1. ed. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2016, v. 1, p. 29-170. http://www.culturaacademica.com.br/catalogo-detalhe.asp?ctl_id=

CALIXTO, M. J. M. S. A centralidade regional de uma cidade média no estado de Mato Grosso do Sul: uma leitura da relação entre diversidade e complementaridade. In: OLIVEIRA, H. C. M.; CALIXTO, M. J. M. S.; SOARES, B. R. (org.). Cidades médias e região. São Paulo: Unesp/Cultura Acadêmica, 2017. p. 57-100. http://www.culturaacademica.com.br/catalogo-detalhe.asp?ctl_id=595

CALIXTO, M. J. M. S., BERNARDELLI, M. L. F. da H., JURADO DA SILVA, P. F. Os novos vetores da produção habitacional em uma cidade média do estado de Mato Grosso do Sul. Apontamentos sobre o processo de redefinição da relação centro-periferia. In: CALIXTO, M. J. M. S., REDÓN, S. M. (orgs.) O Programa Minha Casa Minha Vida e seus desdobramentos socieoespaciais. Os novos vetores da produção do espaço em cidades médias brasileiras. Porto Alegre: TotalBooks, p. 37-74. http://repositorio.ufgd.edu.br/jspui/handle/prefix/4510

CALIXTO, M. J. M. S. O processo de produção, apropriação e consumo do espaço urbano: uma leitura geográfica da cidade de Dourados-MS. Campo Grande: Editora UFMS, 2004.

Artigo

CALIXTO, M. J. M. S. O processo de consolidação da centralidade regional de Dourados-MS na rede urbana: uma contribuição para a análise de uma cidade média. Geousp – Espaço e Tempo (Online), v. 23, n. 3, p. 582-601, dez. 2019, ISSN 2179-0892.
Disponível em: https://www.revistas.usp.br/geousp/article/view/159878
Doi: https://doi.org/10.11606/issn.2179-0892.geousp.2019.159878 

CALIXTO, M. J. M. S. ; JURADO DA SILVA, P. F. ; BERNARDELLI, M. L. F. H. . Os novos vetores da produção do espaço urbano em Dourados-MS e o processo de reconfiguração da periferia.. CONFINS (PARIS), v. 56, p. 1-13-13, 2022.

Disponível em: https://journals.openedition.org/confins/48395?lang=pt

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